Líder ou subúrbio?
Sente-se e respira-se um ar de falta de rumo e de estratégia de desenvolvimento no Município de Vila Nova de Famalicão. Nos últimos anos aquilo de que se tem ouvido falar e a que a comunicação social dá eco mais que baste porque muitas vezes a novidade não existe e o elogio é imerecido, restringe-se a recuperações nas vias de comunicação, protocolos com as juntas de freguesia, a maioria voltada também para as chamadas obras de viação rural, uns arranjos dispersos nas escolas, uns subsídios decididos com a ponta do bisturi, uns cafés com alargamento de horário, umas piscinas sem estudos de sustentação, uns remendos nos esgotos, uns quantos tubos de água, e um posto de turismo que se julga erradamente ser a pedra de toque milagreira para o turismo de massas em Vila Nova de Famalicão.
Neste último caso em concreto, penso que o esforço e o investimento devia ser feito ao contrário: dever-se-ia em primeiro lugar lançar as bases e fazer os investimentos necessário para Vila Nova de Famalicão ser um pólo de interesse turístico e só depois, criada a necessidade, concretizar o Posto de Turismo como estrutura que se tornaria indispensável à “avalanche turística”.
Andamos, vai fazer cinco anos, à espera de um tal “Plano Estratégico” para o Município de Vila Nova de Famalicão, a tal peça que devia transformar-se no nosso guião de desenvolvimento futuro, desde que aberto à participação de especialistas em vários domínios e à discussão pública de todos aqueles que pensam seriamente – e com razão – que Vila Nova de Famalicão tem também uma palavra a dizer no contexto do desenvolvimento global do País.
No futuro que é já ali e que passa todos os dias, vamos afirmar-nos como potência regional da ciência e da investigação científica? Vamos apostar no Ensino Tecnológico e Superior que temos ou vamos balançar-nos para outras áreas, outros saberes e outras motivações? Vamos continuar a dizer que o Ensino Superior Público chegou a Vila Nova de Famalicão, quando temos na secretária apenas e só dois cursos de pós-graduação para um público reduzidíssimo ou reforçar o Ensino Superior Privado de qualidade que já existe?. Vamos fazer da gastronomia tradicional local e de outras artes populares uma alavanca séria para um desenvolvimento de qualidade assente na tradição ou entreter-nos com “quinzenas de gastronomia” que sendo um esforço louvável não são mais que um pretexto para comezainas de amigos e convívios familiares? Vamos ser um “município de arte e de música” ou viver eternamente de um nicho de promoção artística e cultural alheia chamado “Casa das Artes”? Vamos ser “sócios” e parceiros da Galiza ou continuar a ser satélites sem luz própria de Lisboa e do Porto? Vamos ser terra de indústria têxtil de qualidade e bem paga, das carnes verdes, de produtos de ponta ou tão só a terra de sentimentos onde “todos os caminhos se cruzam e todos os homens se abraçam”, incapaz de agarrar as oportunidades estratégicas que circulam por aí todos os dias? Vamos ser uma terra digital com quarenta e nove freguesias, uma Câmara Municipal e uma multidão de serviços públicos ligadas em rede ou tão somente um território de pequenas e grandes burocracias que entopem os cidadãos e estrangulam o progresso? Vamos ser um dos territórios de excelência da Civilização Castreja ou pregadores de uma vaidadezinha inócua e sem sentido que diz que o Castro das Eiras vai ser – e já - Património Cultural da Humanidade?
Estas são apenas algumas das muitas centenas de questões que podiam colocar-se nos tempos que correm. Falta a Vila Nova de Famalicão uma ideia mobilizadora, como se diz agora um “projecto-âncora” sedutor para todos, acessível a todos e que todos sintam como parte de si para o devir colectivo. Um projecto ou um conjunto mínimo de projectos que afirmem Vila Nova de Famalicão no contexto do Noroeste Peninsular e do País e que, em qualquer lugar, leve a dizer: “Ah! Isso é em Vila Nova de Famalicão!”
Mário Martins
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